sexta-feira, 13 de maio de 2011

Dossiê do Astro Gospel

Por Antognoni Misael








Ser um astro gospel não é fácil. Administrar fama e grana não é pra qualquer um. Nessa mistura maluca de mercado e “adoração”, muita “unção” tem surgido como novidade fazendo com que os empresários da fé mexam mais e mais nesse caldeirão de investimento.
As performances impressionantes e melodias super emotivas não conseguem me comover quando parto para investigar o que pensam e fazem as estrelas da música gospel. Como ex-frequentador de shows, e testemunha de fatos pitorescos, escrevi um breve dossiê sobre o “astro gospel” cujas aparências, com certeza, não enganam:

O “astro gospel” se posta como uma celebridade cheia de exigências: toalhas caríssimas, bons camarins, transportes sofisticados, hospedagens em hotéis de luxo, entrevista com hora pré-marcada e muita privacidade.

O “astro gospel” para justificar sua fama, exige uma forte equipe de seguranças que o protege de frenéticos fãs que se auto declaram adoradores (extravagantes).

O “astro gospel” evita se apresentar em locais pequenos, igrejas, praças, escolas – quanto menor for o público, menor a notoriedade, e para se esquivar desse incômodo, cobram um alto cachê pra espantar rapidamente a negociação de pouca expressão.

Para o “astro gospel”, tocar de graça nem pensar! Mas há exceções, uma apresentação no Raul Gil, Faustão, Gugu, dá pra fazer sem cachê ou até pagar, pois cai bem para o marketing.

Contratar o show de um “astro gospel” sempre custa caro pois visa cobrir as cláusulas contratuais e engordar a poupança do “letiva” do Senhor.

O “astro gospel” também costuma se vestir de uma capa de marketagem que vai de tratamentos de pele a novos hábitos no falar e no vestir, e tudo isso porque agora ele não mais se pertence, ele é um produto de investimento.

O “astro gospel” geralmente grava canções compradas, professa testemunhos duvidosos e sem autonomia alguma, por estratégia de mercado, sempre se adapta como camaleão ao modismo do momento.

Se há uma coisa boa para o “astro gospel”, com certeza é viajar pelo país fazendo shows, só assim convertem o trabalho num turismo e suvenir frequente; esses shows estão mais comprometidos com o lucro do investimento do que com as almas alcançadas.

O “astro gospel” é uma figura de difícil acesso. Pra se chegar a ele é preciso fazer sacrifícios tipo: ir à porta do camarim e esperar longas na esperança de que ele(a) tenha um surto de simpatia, apareça e conceda, quem sabe, um autógrafo.

“Astro gospel” olha e vê a massa, não a pessoa. Ele domestica consumidores, desconstrói adoradores.

O “astro gospel” não está comprometido com a saúde espiritual dos seus seguidores. Ele canta o que o povo quer ouvir, não o que precisa ouvir, além disso passa distante de ser um formador de opinião.

“Astro gospel” não tem posicionamento teológico sobre o que crê. Muitas vezes não sabe nem o que canta, e entende mais de jargões do que de Bíblia.

“Astro gospel” se parece mais com “astro global” do que com os “heróis da fé”. Ostentam e almejam as mesmas coisa que as celebridades seculares sob a desculpa de que querem ganhar o Brasil para Cristo.

Pois bem. Quando você se encontrar com um desses “astros” e notar que existe nele boa parte desse dossiê, não duvide, as aparências não enganam! Ele é isso mesmo que você vê!

Chega de tanta mentira no meio dessa música gospel!
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Fonte: Púlpito Cristão


Antognoni Misael é Graduado em História e Música Popular (UFPB). Liberto do mercantilismo gospel, ataca de colunista no Púlpito Cristão

Latino Gospel: Da Festa no Apê ao bundalelê do mercado evangélico

                                                        Por Yago Martins






Todo mundo já percebeu que a música gospel brasileira sofre um estado extremo de mercantilização – aliás, reitero, todo mundo percebeu, menos os crentes. Creio que todos lembramos do cantor Latino, famoso por músicas dotadas de letras tão profundas como a maioria das canções que entoamos em nossos cultos. O compositor da lendária “festa no apê”, onde iria “rolar bundalelê”, completou 18 anos de carreira e foi presenteado com uma luxuosa festa. Depois de comentar sobre a importância desta data para ele próprio, o cantor revelou, para surpresa de muitos, que pretende ingressar no que ele chamou de “universo da música gospel”.

Suas palavras foram claras e perturbadoras: “Não quero me tornar evangélico, mas sei que posso falar de Deus de uma maneira ousada e jovial”. Segundo ele, esse é um projeto para daqui a dois ou três anos, mas mesmo assim, confessa estar com muita vontade de “juntar essa galera gospel e fazer um trabalho bacana”.
“Precisamos ficar de olho no mercado musical e sempre buscar novas inspirações. Eu mesmo quero compor as músicas que falem de Deus de uma forma bem alegre, com romantismo também. Vou trabalhar muito para me consolidar também nesse meio”, disse Latino, segundo a EGO.

Pode parecer absurdo, mas isso está realmente acontecendo – e cá entre nós, era apenas questão de tempo. Com “ministros” que são mais mercadores da fé do que pastores, o mundo não perderia a oportunidade de arrecadar com isso. Latino só percebeu o que os crentes tentam negar: que nossos músicos são artistas, que nossos músicos são ricos, que nossos músicos são estrelas e que você não precisa parecer com Jesus para ser um “músico cristão”. Claro, existem exceções, mas, infelizmente, não são essas exceções que estão nos programas do Faustão, do Raul Gil, da Eliana ou da Xuxa.

Mas, andando na linha tênue da esperança e da ingenuidade, creio que isso trará algo bom. Com o advento de um não-cristão declarado cantando música gospel, o povo terá que redefinir seu maniqueísmo musical entre “música gospel” e “música do mundo” para algo mais inteligente.

Só nos resta orar e esperar, sinceramente, que Deus venha e mude as coisas. Se Jesus estivesse aqui, creio que ele já teria virado muitas mesas, derrubado microfones e quebrado violões. Creio que Deus repetiria hoje o que professou pela boca de Amós, “afasta de mim o estrépito dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas” (5:23).

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 Yago Martins é editor do Cante as Escrituras, colaborador do Voltemos e compadre dos blogueiros do Púlpito Cristão 



Fonte: Púlpito Cristão